quarta-feira, 11 de julho de 2012

Post 48 - Futebol/Gestão - Poderíamos ser nós!

Hoje é a Final da Copa do Brasil 2012, competição que só teve um vencedor nordestino em sua história. Desde o ano de 2004 que os campeões deste torneio (assim como também do Campeonato Brasileiro) pertencem ao eixo Rio-São Paulo, com exceção de 2008. Confiram a tabela:
Copa do Brasil
2004: Campeão - Santo André; Vice - Flamengo
2005: Campeão - Paulista de Jundiaí; Vice - Fluminense
2006: Campeão - Flamengo; Vice - Vasco
2007: Campeão - Fluminense; Vice - Figueirense
2008: Campeão - Sport; Vice - Corinthians
2009: Campeão - Corinthians; Vice - Internacional
2010: Campeão - Santos; Vice - Vitória
2011: Campeão - Vasco; Vice - Coritiba

A dificuldade de lutar contra o poderio Rio-São Paulo (ou melhor, de lutar contra as vultosas verbas que recebem) torna-se nítida ao observamos que dos últimos oito campeões, sete pertenciam a tal eixo. Contudo, consideremos apenas cinco pela disparidade: não podemos considerar Paulista de Jundiaí e Santo André, times que hoje não frequentam sequer a segunda divisão nacional, como maiores que o Náutico. E se eles conseguiram, nós também poderíamos/podemos. Temos ainda o exemplo de 2008, em que curiosamente, todos nós torcemos para mais uma vitória de um time deste eixo, que não veio a acontecer. Embora não tenha sido boa de ver, a campanha do Sport naquele ano foi meritória e exemplar para qualquer time nordestino que pleiteie chegar a ostentar a estrela.
Temos, como outro exemplo, o Coritiba, que a menos de três anos passava pelo maior vexame de sua história: no ano de seu centenário (2009), além de não ter conquistado o título estadual, foi rebaixado na última rodada da Série A daquele ano, diante de sua torcida, que depredou o estádio Couto Pereira após o apito final que decretou o empate em 1x1 com o milagroso time do Fluminense. Se os primeiros sinais apontavam um futuro catastrófico, como a mídia esportiva não cansava de reiterar, a ousadia por manter o técnico do rebaixamento, Ney Franco (um dos melhores do futebol brasileiro, na minha opinião, e atual técnico do São Paulo) deu resultado: o time conquistou o campeonato paranaense e venceu a Série B, ainda que tenha jogado todo o primeiro turno em Joinville, Santa Catarina, como punição pelo quebra-quebra no estádio. No fim desta temporada, reconhecido pela recuperação, Ney Franco foi treinar a seleção nacional Sub-20, mas não deixou de indicar um nome antes de sair: Marcelo Oliveira, a época treinador do Paraná, que reagiu na Série B de 2010 após sua chegada. Acreditando no trabalho de Ney, a diretoria do Coritiba trouxe Marcelo Oliveira, e o resultado é este: tricampeão paranaense, recorde de vitórias mundial registrado no Guiness Book e duas finais seguidas de Copa do Brasil, um feito inédito. Na gestão, houve um aumento expressivo no quadro de sócios, mudança nas diretrizes, etc.
Nós vivemos uma situação inversa a do Coritiba. Assim como eles, fomos rebaixados a Série B em 2009, e não conseguimos voltar no ano seguinte. Chegamos em 2011 com a responsabilidade de evitar o hexa, objetivo este concretizado indiretamente pelo desacreditado Santa Cruz. Com 2/3 do orçamento anual gastos nos primeiros cinco meses do ano, peças importantes do elenco deixaram o Náutico: o lateral-direito Rodrigo Heffner e os atacantes titulares no Pernambucano, Ricardo Xavier e Bruno Meneghel. A falta de dinheiro para contratar e a goleada sofrida para a Portuguesa (4x0) na rodada inaugural, precedida por uma desclassificação trágica para o Sport colocavam o Náutico como candidato ao rebaixamento. Felizmente, descobrimos um inspirado Kieza e um agregador Waldemar Lemos, que guiaram-nos rumo a primeira divisão. Contrariando o Coritiba, ao invés de um quebra-quebra no estádio, tivemos uma invasão em campo pelo acesso, após o empate em 2x2 com a Ponte Preta, e uma visão otimista de que o jejum de 7 anos sem conquistar o Campeonato Pernambucano acabaria. 
Não acabou. Pelo terceiro ano seguido caímos ante o Sport, e na Copa do Brasil, fomos eliminados pelo Fortaleza, time que figura a terceira divisão e tem um orçamento limitadíssimo, mas que ainda assim conseguiu nos vencer com um inacreditável 4x0, em 12 de abril deste ano. 
O elenco do começo do ano e o grupo atual são diferentes demais. Para quem não vê essa diferença toda, olhem as fichas técnicas abaixo:

1ª rodada do Campeonato PE - 13/01/2012 - Porto 0x2 Náutico - Gideão; João Ananias, Marlon, Ronaldo Alves e Jefferson (Helder); Lenon, Elicarlos, Souza e Cascata (Philiph); Siloé (Henrique) e Rogério

Jogo de volta da Semi-Final do PE - 29/04/2012 - Gideão; João Ananias (Marquinho), Ronaldo Alves, Cesinha e Jefferson; Souza, Auremir, Derley e Ramon (Dorielton); Rodrigo Tiuí (Léo Santos) e Siloé
Senhores, dos jogadores citados nas escalações acima, já deixaram o Náutico: Marquinho, Cesinha, Jefferson, Lenon, Philiph, Siloé, Henrique, Ramon, Dorielton, Henrique Rodrigo Tiuí e Siloé. Ou seja, dos atacantes utilizados no Campeonato Pernambucano (Rogério, Siloé, Henrique, Dorielton, Léo Santos e Rodrigo Tiuí) apenas UM, que é Rogério, continua no Náutico! E, pra melhorar, ele está no departamento médico devido a grave lesão. Logo, dos  seis atacantes que jogaram o Campeonato Pernambucano pelo Náutico, o único que segue no elenco jogou quatro partidas no ano. 
Agora todos percebem que, para não perder o costume, o Náutico montou dois times diferentes para competições diferentes, o que não faz sentido nenhum. Estão fazendo a mesma coisa todo ano, e esperando diferentes resultados. Não tenho dúvida que o grupo atual, com Kieza, Araújo, Martinez, Lúcio e companhia teria totais condições de vencer essa competição - Copa do Brasil, assim como tenho certeza que venceria o Campeonato Pernambucano. No entanto, com exceção de anos em que o hexa está em jogo, o que aconteceu duas vezes em menos de uma década (temos que ver 5 anos de domínio do Sport no futebol do estado para mexer-nos e defender uma conquista de 44 anos atrás?) o campeonato estadual foi jogado de lado, colocando-se apostas e mais apostas para tentar conquistá-lo. O desleixo e o descaso esse ano foram enormes, a ponto de ficarmos atrás do SALGUEIRO na classificação, um time com uma folha salarial que não chega a 300 mil e sem nenhuma obrigação de título. E por mais que digam: "o importante é a fase final", a classificação em 4º lugar nos tira da remodelada Copa do Nordeste, que acontecerá em 2013. Quem ocupará nossa vaga? O Salgueiro. E para o defensores da teoria "o importante é a fase final", será que esta foi mesmo tratada com importância? Se foi, porque fomos o único dos 4 times que disputaram esta fase que não conseguiu sequer vencer um jogo na dita fase? 

A receita do CNC para 2012 é estimada em 35-40 milhões. Suficiente pra fazer uma folha salarial, de funcionários a jogadores, qualificada e mantê-la. Tudo questão de planejamento, saber investir. O Internacional teve, ano passado, uma receita liquída de 175 milhões. Forlan, que tanta gente diz ser caro por ser estrangeiro, melhor jogador da Copa do Mundo de 2010, representa, anualmente, 3% desse valor. É caro? Não, é calculado. Por que nós não poderíamos fazer um investimento, na mesma proporção, que se enquadrasse no nosso orçamento? Ou então poderia-se investir no marketing, revolucionando esse departamento investindo apenas 1% do orçamento anual (para entender, clique aqui).

Se, um dia, aprendermos a investir, ou se houver uma mudança na gestão, o Náutico tem tudo pra decolar. O que não dá é insistir, todos os anos, na mesma receita (que não vem dando certo) e esperar diferentes resultados. Estamos a 8 anos sem conquistar sequer um turno de campeonato e a 111 tentando conquistar um título nacional. Mas, se Criciúma, Paulista de Jundiaí, Santo André e Sport conseguiram, por que nós não? Se o São Caetano chegou a uma final de Libertadores, por que nós não? Somos menores que estes times ou nossa organização é menor que a deles?

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